O Diário de Malygris, Dragão Azul Ancião Pt: I

Postado por Clever lá pelas 01:20

quarta-feira, 17 de setembro de 2008

Eu senti o cheiro do mamífero antes mesmo que sua mágica trivial o trouxesse para as cercanias de meu alto, montanhoso lar. Essa invasão de meu domínio, essa violação de minha privacidade, não iria restar impune. Enquanto eu configurava os meios mais eficazes de destruir o intruso, ele usou mais uma vez sua mágica mamífera de menor potencial. Eu estava, é claro, preparado para tal eventualidade, mas diferentemente dessas auto-proclamadas "espécies civilizadas", esse ser não atacou, indo cegamente de encontro a sua destruição.

Ao invés disso, a magia carregou sua voz débil à minha presença. Ele falou -na língua anciã dos Vormes, nada menos- implorando acesso ao meu Covil, prometendo o mais poderoso de todos os tesouros, caso eu me dignasse a ouvi-lo. Intrigado pela proficiência do inseto no Idioma Verdadeiro, eu permiti que ele presenciasse minha graça pessoal. Eu notei que ele até mesmo seguiu as antigas formalidades para implorar uma audiência.

Ele entrou de joelhos, sua cabeça curvada, trazendo à sua frente uma anomalia dimensional portátil, limitada com uma faixa de couro e bronze. Enquanto se arrastava em minha direção, o inseto mamífero elogiou minha espécie por nosso poder, nossa magia, e nossa graciosa força bruta -eu achei pouco apropriado o fato do bufão ter derrubado dois de meus baús menores enquanto se aproximava pateticamente. (Nota: Não me esquecer de recontar, empilhar e tabelá-las novamente.)

Ao perceber minha insatisfação, o humano (não me importa o sexo de mamíferos) se desculpou efusivamente, usando novamente as formalidades corretas, e abriu a caixa, da qual saiu uma quantidade significativa de gemas. Daquele lote, a maioria era pateticamente pequena e desprovida de mérito, mas algumas poucas safiras chamaram minha atenção. Eu, então, resolvi escutar, pois o mamífero estava obviamente reunindo sua coragem para algum tipo de discurso que, ele pensava, iria me agradar.

Eu não me lembro da maior parte da ladainha do mamífero, mas ele falou razoavelmente bem do meu poder, glória e reputação, e entregou as poucas centenas de libras de gemas, posto que eu ofereci minha paciência.

Daí, entretanto, ele fez referência e elogiou o "meu superior" -palavras dele, certamente não minhas- o então chamado Suzerano de Anauroch, Sussethilasis. Minha fúria justa se aguçou então, e eu anexei a criatura tola ao chão sob uma única garra da minha pata dianteira. Enquanto eu considerava fazer desse mamífero uma breve refeição, eu ordenei:
-Dê-me uma razão para eu não te matar onde você está agora, pulga de sangue quente.

O mamífero lamentou seu erro novamente e implorou permissão para falar. (Mesmo para um mamífero, ele implorava muito bem.)

Ele aparentemante havia sido enviado por um grupo de companheiros mamíferos que chamavam a si mesmos pelo título presunçoso de Culto do Dragão. O inseto me contou sobre o fundador de seu grupo e sobre como ele havia previsto que as raças bípedes irão um dia (mais cedo do que pensam) cair perante nosso poder dracônico. Que tremendo poder de vidência esse "fundador" possuía! Como se qualquer filhote não soubesse dessa verdade inevitável!

O humano então continuou, com certa dificuldade, provavelmente devido ao peso da minha formidável garra sobre seu corpo frágil, e falou sobre seu culto e como estavam se preparando para esse dia e...

Eu compreendi antes que o inseto sequer terminasse, é claro. Tal culto procura me adorar, de alguma forma percebendo tão bem quanto eu, o verdadeiro poder e astúcia que possuo e irei algum dia (muito próximo) abater sobre a face desta terra. Haverá um acerto quando eu derrotar o tolo e fanfarrão, Sussethilasis. Então, eu comandarei a terra inóspita de Anauroch, e de lá abrirei minhas asas -mas já estou me adiantando demais. Haverá tempo para tais planos. Agora talvez, eu permita ao inseto mamífero que se dirija a mim novamente (com oferendas próprias pela minha paciência) e continue a tagarelar, dizendo mais a respeito desse culto e que bem ele pode fazer a mim.

-Dos diários de Malygris, Dragão Azul Ancião do Sul de Anauroch, cerca de 1351-Cômputo dos Vales

Continua...

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